sexta-feira, 16 de abril de 2010
História da sustentabilidade
Oficialmente o conceito de desenvolvimento sustentável foi usado pela primeira vez na Assembléia Geral das Nações Unidas em 1979. Foi assumido pelos governos e pelos organismos multilaterais a partir de 1987 quando, depois de quase mil dias de reuniões de especialistas convocados pela ONU sob a coordenação da primeira ministra da Noruega, Gro Brundland, se publicou o documento Nosso Futuro Comum. Nele aparece a definição que já se tornou clássica: "sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades". Na realidade, o conceito possui uma pré-história de quase três séculos. Surgiu da percepção da escassez. As potências coloniais e industriais européias desflorestaram vastamente seus territórios para alimentar com lenha a incipiente produção industrial e a construção dos navios com os quais transportavam suas mercadorias e submetiam militarmente grande parte dos povos da Terra. Então surgiu a pergunta: como administrar a escassez? Carl von Carlowitz respondeu em 1713 com um tratado que vinha com o título latino de Sylvicultura Oeconomica. Neste tratado, ele usou a expressão “nachhaltendes wirtschaften”, que significa: administração sustentável. Os ingleses traduziram por sustainable yield que quer dizer “produção sustentável”. De imediato surgiu também a pergunta, válida até os dias de hoje: como produzir de maneira sustentável? Apresentavam-se para o autor quatro estratégias. A primeira era política: cabe ao poder público e não às empresas e nem aos consumidores regular a produção e o consumo e, assim, garantir a sustentabilidade em função do bem comum. A segunda era a estratégia colonial: para resolver a carência de sustentabilidade nacional era necessário buscar os recursos faltantes fora, conquistando e colonizando outros países e povos. A terceira era a liberal: o mercado aberto e o livre comércio vão regular a demanda e o consumo, de onde virá a sustentabilidade que será mais bem assegurada se for apoiada por unidades de produção nos países onde há abundância dos recursos necessários para a produção. A quarta era a solução da técnica: para superar a escassez e garantir a sustentabilidade se buscará a inovação tecnológica ou a substituição dos recurso escassos: em vez de madeira, carvão e mais tarde, em vez de carvão, petróleo. Hoje com a distância temporal podemos dizer: se houvesse triunfado a estratégia política em razão do bem comum, a história econômica e social do Ocidente e do mundo teria seguido o caminho da sustentabilidade. Haveria seguramente mais eqüidade (os custos e os benefícios estariam mais igualmente distribuídos), se viveria melhor com menos e haveria mais preservação dos ecossistemas e cuidado com o meio ambiente. Porém, não foi este o caminho escolhido. Foi o do colonialismo, o do imperialismo, o do globalismo econômico-financeiro e o da economia política de mercado que gerou a grande transformação (Polanyi) com a mercantilização de tudo e o submetimento da política e da ética à economia. A crise ecológica atual deriva deste caminho que, mantido, poderá ameaçar o futuro da vida humana. Estamos a tempo de revisar e de buscar alternativas paradigmáticas.
__________________
Leonardo Boff Doutor em Teologia pela Universidade de Munique .
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O problema do discurso da sustentabilidade é o seu discurso em busca de um pragmatismo meio que platônico para contrabalancear o pragmatismo mercadológico a que se propôe. E parece que o primeiro discurso está perdendo para o segundo, tanto por causa da politização do discurso, quanto pela falta de visão a curto prazo de alternativas que reduzam os problemas ambientais proporcionados pelo mundo contemporâneo
ResponderExcluir